Foi o que disse Kylian Mbappé em maio de 2022. Às vésperas da Copa do Mundo do Catar, o astro francês menosprezou o futebol sul-americano como se, por aqui, só existissem pernas de pau. Mal sabia ele que suas palavras se transformariam em uma espécie de vitamina para um continente sedento por afirmação.
O efeito daquela provocação, sabemos agora, é evidente. A Argentina levantou a Copa de 2022, e agora, no Mundial de Clubes, vemos uma virada histórica: clubes sul-americanos batendo de frente — e vencendo — gigantes da Europa.
A vitória do Botafogo sobre o PSG foi a primeira grande pancada. E com ela, o Flamengo entrou em campo nesta sexta-feira quase que com a obrigação de, ao menos, não fazer feio contra o Chelsea. Mas o que aconteceu no gramado foi muito mais do que isso: o Flamengo deu um show de bola.
Foi um domínio técnico, tático e emocional impressionantes. O Chelsea abriu o placar, mas o Flamengo manteve a calma, se impôs no segundo tempo e virou com autoridade. Repertório, passe, confiança e gols. A atuação foi comparável à do Botafogo no dia anterior — talvez até mais madura.
O que está em jogo aqui não é apenas um torneio. É uma quebra simbólica de um complexo de inferioridade que perseguiu o futebol sul-americano por décadas. Afinal, nossos craques de 17 anos mal despontam e já são levados à Europa, minando o crescimento dos clubes locais. Mas agora, mesmo com essa sangria precoce de talentos, mostramos que a distância entre Europa e América do Sul não é abissal — é mínima.
E este Mundial de Clubes, com formato inspirado na Copa de Seleções e confrontos de altíssimo nível, tem se revelado tão emocionante quanto. A diferença é que agora os europeus não estão mais sozinhos no pedestal.
JNFBRASIL-JORNAL NOSSA FOLHA-DF
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